Vivemos
numa sociedade que nos reafirma cotidianamente que precisamos sempre
de companhias, sejam elas amorosas, familiares, de amigos ou de
qualquer natureza. Nada de errado nisso, para ser sincero: uma das
coisas mais fascinantes de sermos humanos é a nossa infinita
capacidade de trocar conhecimentos, compartilhar alegrias, tristezas,
dentre uma infinidade de coisas que somos capazes de fazer quando
inseridos em um grupo social.
Nascemos para ser sociais, certo? Em
termos. É fato que precisamos algumas vezes de algum norte e que
esse norte é mais facilmente encontrado nas companhias que
arranjamos pelos caminhos e descaminhos da vida, mas... até que
ponto isso é saudável? Não quero, em momento algum, fazer desse
texto uma verdade absoluta, porque simplesmente não creio em
verdades absolutas para nada nessa vida. Tudo sempre tem mais de um
lado... então vou falar sobre como eu entendo os conceitos de
companhia/solidão, ou coisa parecida.
Nascemos condicionados a
acreditar que somos necessitados de companhias em tempo integral.
Começamos a aprender sobre esse “excesso de apego” antes mesmo
de aprendermos a falar e a nos comunicarmos com o mundo à nossa
volta. Devemos culpar nossos pais e nossa família? Evidente que não!
As gerações apenas reproduzem em modo automático o que aprendem há
milênios... são padrões estabelecidos. Mas será que esses padrões
se aplicam necessariamente para todos nós? Difícil concluir
qualquer coisa...
Aprendemos a relacionar o amor ao apego, à
dependência física, emocional, financeira, sentimento de posse, de
controle. Não raramente, relações de suposto amor (inclua-se nisso
relações familiares, amores e amizades) terminam por se tornar
relações abusivas, onde um lado, obsessivo pelo poder, exerce
domínio sobre o outro, que é dominado. Exemplos disso não faltam:
mães e pais que sufocam a individualidade de seus rebentos e exigem
uma vida planejada por eles, sem questionar seus filhos sobre o que
eles realmente querem da vida, homens e mulheres que dominam
emocionalmente seus parceiros, seja pela chantagem emocional, seja
pela coação, seja para manter uma imagem diante da sociedade. Há
também “amizades” abusivas, onde o lado que exerce o poder coage
o lado dominado, seja por antigos favores ou qualquer coisa que sirva
como “pretexto” para manter elos que são flagrantemente
desgastados, fadados ao fim.
Há, de fato, uma banalização
perigosíssima do significado real do amor. Há muito mais gente
nesse mundo que nunca aprendeu a amar do que possa supor nossa vã
filosofia (licenças literárias à parte). Para ser bem sincero, é
praticamente impossível traduzir em palavras o que é realmente o
amor, aquele incondicional, aquele que é alegre pelo simples fato de
existir, sem necessidade nenhuma de reciprocidade. Qualquer tentativa
de descrever minha vivência de amor incondicional resultaria
fatalmente numa explicação enfadonha que deixaria qualquer um a
pensar “mas que coisa mais chata, além de pedante!”, então
melhor parar por aqui.
Queria dizer como eu aprecio a solidão. A
despeito do que a sociedade nos “bombardeia” constantemente de
que é impossível que sejamos felizes sozinhos, para mim a solidão
é, muitas vezes, a solução. Gosto da minha companhia. Acho até
que me amo pra caramba... deve ser isso, no final das contas. Preciso
constantemente da introspecção, do recolhimento, do silêncio
barulhento dos meus pensamentos que nunca param de me transportar
para aventuras sem fim. É a minha natureza: tímido, talvez um pouco
desconfiado, introvertido.
Mas também aprecio demais a companhia
humana. Ao contrário do que vocês possam pensar, isso não é uma
contradição: é apenas meu modo de dizer que tenho laços que criei
pela vida. Não crio laços para depois desfazê-los: gosto da ideia
de levar afetos pro resto da vida, seja qual for o tempo que me
reste. Procuro levar minhas poucas amizades até onde a eternidade me
permite, pois ao me entender tão humano, não me sinto no direito de
julgar os erros dos meus. Também erro, afinal.
Porém, por apreciar
tanto a solidão, remei contra a maré: fui contra a “norma”
social de que precisamos sempre de alguém e assumi, por conta e
risco, as consequências disso. Não me arrependo nem por um segundo,
porque vivo minha essência, ou pelo menos tento. À essa altura
vocês devem estar se perguntando se eu amo. Amei, amo e amarei. Amo
demais. É tanto amor que meu maior prazer é ver as pessoas que eu
amo livres. Não existe nada nessa vida que seja mais belo do que a
liberdade.
Relações, sejam elas de que natureza for, devem ser
espontâneas, da forma que vejo. Se você se cerca de “relações”
apenas para cumprir um “papel social” que foi talhado antes mesmo
de você nascer, cabe o questionamento: você está vivendo o que de
fato quer da vida? Seja qual for a resposta, só digo que devemos,
todos nós, buscar espontaneidade e naturalidade nas nossas relações,
sejam elas familiares, de amizade ou amorosas. Ninguém é obrigado a
nada. Relações por obrigação não são relações: são prisões,
são abusivas. Amo muita gente nessa vida. Mas também amo a solidão.
Não vejo contradição alguma nisso... prefiro dar o melhor de mim
para as pessoas do que ser metade, apenas por convenção. Mas
confesso que, ao abrir mão desse “sistema” onde saímos de um
relacionamento para entrar em outro na sequência, talvez eu tenha
“enferrujado” um pouco. Talvez eu seja muito ingênuo, talvez a
ferrugem tenha turvado minha visão, mas o fato é que eu levo tudo
sempre pro lado da amizade. Isso não é ruim, penso... amizade é
amor, às vezes para toda uma vida. Mas confesso que se alguém
viesse com outras intenções para o meu lado, além da amizade,
sinceramente: eu provavelmente não perceberia nada. Ou, se
percebesse, negaria o fato até o último instante. Por que? Nem eu
sei, mas talvez algum resíduo dos meus tempos de autoestima baixa
tenha ficado, algo como aquele pensamento de não me considerar
merecedor de muita coisa. Não é que eu não me considere merecedor,
apenas penso que antes da minha vida e das minhas questões internas,
vem a vida e as necessidades das pessoas que me são caras. E,
sinceramente: o que mais me gratifica nessa vida é o sorriso dos
meus.
Não tenho do que reclamar, no final das contas. A vida tem
sido maravilhosa assim!
Um comentário:
Que bela reflexão! Viva e deixe viver! Cada um de nós é um universo de possibilidades e como diria o poeta: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é"
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