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sábado, 23 de maio de 2015

A Solidão e Eu.

Vivemos numa sociedade que nos reafirma cotidianamente que precisamos sempre de companhias, sejam elas amorosas, familiares, de amigos ou de qualquer natureza. Nada de errado nisso, para ser sincero: uma das coisas mais fascinantes de sermos humanos é a nossa infinita capacidade de trocar conhecimentos, compartilhar alegrias, tristezas, dentre uma infinidade de coisas que somos capazes de fazer quando inseridos em um grupo social.
Nascemos para ser sociais, certo? Em termos. É fato que precisamos algumas vezes de algum norte e que esse norte é mais facilmente encontrado nas companhias que arranjamos pelos caminhos e descaminhos da vida, mas... até que ponto isso é saudável? Não quero, em momento algum, fazer desse texto uma verdade absoluta, porque simplesmente não creio em verdades absolutas para nada nessa vida. Tudo sempre tem mais de um lado... então vou falar sobre como eu entendo os conceitos de companhia/solidão, ou coisa parecida. 
Nascemos condicionados a acreditar que somos necessitados de companhias em tempo integral. Começamos a aprender sobre esse “excesso de apego” antes mesmo de aprendermos a falar e a nos comunicarmos com o mundo à nossa volta. Devemos culpar nossos pais e nossa família? Evidente que não! As gerações apenas reproduzem em modo automático o que aprendem há milênios... são padrões estabelecidos. Mas será que esses padrões se aplicam necessariamente para todos nós? Difícil concluir qualquer coisa... 
Aprendemos a relacionar o amor ao apego, à dependência física, emocional, financeira, sentimento de posse, de controle. Não raramente, relações de suposto amor (inclua-se nisso relações familiares, amores e amizades) terminam por se tornar relações abusivas, onde um lado, obsessivo pelo poder, exerce domínio sobre o outro, que é dominado. Exemplos disso não faltam: mães e pais que sufocam a individualidade de seus rebentos e exigem uma vida planejada por eles, sem questionar seus filhos sobre o que eles realmente querem da vida, homens e mulheres que dominam emocionalmente seus parceiros, seja pela chantagem emocional, seja pela coação, seja para manter uma imagem diante da sociedade. Há também “amizades” abusivas, onde o lado que exerce o poder coage o lado dominado, seja por antigos favores ou qualquer coisa que sirva como “pretexto” para manter elos que são flagrantemente desgastados, fadados ao fim. 
Há, de fato, uma banalização perigosíssima do significado real do amor. Há muito mais gente nesse mundo que nunca aprendeu a amar do que possa supor nossa vã filosofia (licenças literárias à parte). Para ser bem sincero, é praticamente impossível traduzir em palavras o que é realmente o amor, aquele incondicional, aquele que é alegre pelo simples fato de existir, sem necessidade nenhuma de reciprocidade. Qualquer tentativa de descrever minha vivência de amor incondicional resultaria fatalmente numa explicação enfadonha que deixaria qualquer um a pensar “mas que coisa mais chata, além de pedante!”, então melhor parar por aqui. 
Queria dizer como eu aprecio a solidão. A despeito do que a sociedade nos “bombardeia” constantemente de que é impossível que sejamos felizes sozinhos, para mim a solidão é, muitas vezes, a solução. Gosto da minha companhia. Acho até que me amo pra caramba... deve ser isso, no final das contas. Preciso constantemente da introspecção, do recolhimento, do silêncio barulhento dos meus pensamentos que nunca param de me transportar para aventuras sem fim. É a minha natureza: tímido, talvez um pouco desconfiado, introvertido. 
Mas também aprecio demais a companhia humana. Ao contrário do que vocês possam pensar, isso não é uma contradição: é apenas meu modo de dizer que tenho laços que criei pela vida. Não crio laços para depois desfazê-los: gosto da ideia de levar afetos pro resto da vida, seja qual for o tempo que me reste. Procuro levar minhas poucas amizades até onde a eternidade me permite, pois ao me entender tão humano, não me sinto no direito de julgar os erros dos meus. Também erro, afinal. 
Porém, por apreciar tanto a solidão, remei contra a maré: fui contra a “norma” social de que precisamos sempre de alguém e assumi, por conta e risco, as consequências disso. Não me arrependo nem por um segundo, porque vivo minha essência, ou pelo menos tento. À essa altura vocês devem estar se perguntando se eu amo. Amei, amo e amarei. Amo demais. É tanto amor que meu maior prazer é ver as pessoas que eu amo livres. Não existe nada nessa vida que seja mais belo do que a liberdade. 
Relações, sejam elas de que natureza for, devem ser espontâneas, da forma que vejo. Se você se cerca de “relações” apenas para cumprir um “papel social” que foi talhado antes mesmo de você nascer, cabe o questionamento: você está vivendo o que de fato quer da vida? Seja qual for a resposta, só digo que devemos, todos nós, buscar espontaneidade e naturalidade nas nossas relações, sejam elas familiares, de amizade ou amorosas. Ninguém é obrigado a nada. Relações por obrigação não são relações: são prisões, são abusivas. Amo muita gente nessa vida. Mas também amo a solidão. Não vejo contradição alguma nisso... prefiro dar o melhor de mim para as pessoas do que ser metade, apenas por convenção. Mas confesso que, ao abrir mão desse “sistema” onde saímos de um relacionamento para entrar em outro na sequência, talvez eu tenha “enferrujado” um pouco. Talvez eu seja muito ingênuo, talvez a ferrugem tenha turvado minha visão, mas o fato é que eu levo tudo sempre pro lado da amizade. Isso não é ruim, penso... amizade é amor, às vezes para toda uma vida. Mas confesso que se alguém viesse com outras intenções para o meu lado, além da amizade, sinceramente: eu provavelmente não perceberia nada. Ou, se percebesse, negaria o fato até o último instante. Por que? Nem eu sei, mas talvez algum resíduo dos meus tempos de autoestima baixa tenha ficado, algo como aquele pensamento de não me considerar merecedor de muita coisa. Não é que eu não me considere merecedor, apenas penso que antes da minha vida e das minhas questões internas, vem a vida e as necessidades das pessoas que me são caras. E, sinceramente: o que mais me gratifica nessa vida é o sorriso dos meus. 
Não tenho do que reclamar, no final das contas. A vida tem sido maravilhosa assim!

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