Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que esse texto (ou artigo, como preferirem) é apenas a expressão de minhas opiniões e impressões sobre o tema que tratarei. Não se trata - graças a Deus! - de uma verdade absoluta e DEVE ser questionado por quem tiver algo a acrescentar. Mas, sem mais delongas, vamos ao que tenho observado nos últimos anos sobre o nosso povo brasileiro.
Talvez eu seja muito jovem para ter a pretensão de analisar toda uma sociedade de toda uma nação. Afinal de contas, desses 30 anos vividos, pouco mais da metade deles foram realmente dedicados a entender o ser humano. Dito isso, vamos ao tema:
Acho no mínimo esquisita a maneira como o brasileiro médio (isto é: a maioria das pessoas, ainda assim isso não é uma generalização) costuma reagir de formas tão distintas diante das coisas. Há momentos que ele reage como forte defensor de sua pátria, há momentos que ele repudia tudo o que vem do seu país, desde coisas triviais a coisas mais importantes.
Exemplos para isso não faltam. Um deles é, por exemplo, o tão falado complexo de vira-lata do brasileiro médio. Ele é real. Existe, de fato, uma adoração quase religiosa a tudo aquilo que vem de fora, do exterior, seja dos Estados Unidos ou do continente europeu. Ah, a Europa! Como gosta o brasileiro médio de encher a boca para falar desse continente como se fosse a coisa mais bela do mundo! Isso não é, principalmente à luz da história, algo completamente descabido? Deveria ser, não é? Mas quase nunca isso é lembrado.
O brasileiro comum sofre de autoestima baixa incontáveis vezes. Considera melhor tudo aquilo que vier de fora, seja música, literatura, vestuário... existe um fascínio pelo estrangeiro. Um fascínio invejoso. O brasileiro comum tem inveja das culturas estrangeiras. Não sabe nem porque inveja, mas inveja tudo aquilo que julga não possuir. Mas possuir o que, afinal de contas? Nem ele sabe. Quer alguma coisa. Não sabe o que é, só sabe que quer mais e mais e mais. Se vier do estrangeiro, melhor ainda! É sinônimo de status, de poder, de diferenciação. Tudo isso é sintomático de uma autoestima baixíssima.
Rejeita a própria cultura, rejeita a própria comida, rejeita a própria música. Se possível fosse, rejeitaria até mesmo o próprio idioma, mas é aí que o brasileiro médio esbarra na sua maior mediocridade: desejoso de aprender outros idiomas, acredita ele que o ponto máximo da vida é saber falar outro idioma com fluência, mas termina esbarrando na dificuldade de aprender outro idioma depois de adulto, pois será uma jornada ingrata de muito esforço e pouco resultado a curto prazo. Os tropeços serão muitos e, muitas vezes, frustrado por não ter aprendido rapidamente um segundo idioma, o brasileiro médio desiste, abandona a missão. Se julga incapaz antes mesmo de ter seguido a luta. Segue invejando tudo aquilo que vem de fora.
Passa a invejar a vida de todos aqueles que tiveram outras vivências e é aí que vem o outro lado da estranha e instável autoestima do brasileiro médio: julgando-se incapazes de conseguir o que inicialmente almejaram, acabam se aproximando de pessoas que tiveram mais sorte que eles, seja por terem aprendido um segundo idioma desde crianças (por vontade própria ou por descenderem de estrangeiros, tanto faz), seja por terem passado uma longa temporada vivendo em outro país ou seja mesmo por terem tido mais facilidade ou até mesmo mais persistência na busca dos seus objetivos. É aí que o brasileiro médio tenta "sorver" o que pode das pessoas que alegadamente admiram. Só que não admiram. Lá no fundo, bem no fundo, sentem inveja. Inveja esta que só nasce porque ele mesmo, brasileiro comum, se sente incapaz das coisas e para esconder de si mesmo a própria frustração, a projeta em terceiros.
Procuram tornar-se amigos dessas pessoas que tiveram o privilégio de ter acesso a um tipo de conhecimento ou cultura (ou seja lá o que for o objeto de suas buscas...) diferentes dos seus, para poderem enriquecer seus conhecimentos. Desejam o saber, desejam alcançar seus objetivos. Mas como se cansam facilmente quando o caminho não chegou nem na metade, preferem se aproximar justamente de quem possui o que eles desejam. Estudar? Nem pensar! Suas rotinas já são atribuladas demais, não é mesmo? Mais fácil se torna cercar-se de pessoas que possuem o que lhes interessa, para que elas possam ser suas fontes de inspiração e desejo pela vida que nunca alcançam. Juntar dinheiro? Só se for pra passar uma temporada BA-FÔ-NI-CA no estrangeiro pra poder tirar uma infinidade de selfies e ostentar todo seu viralatismo nas redes sociais! Ler textão? Nem pensar! Mais fácil é mentir que leu best-sellers e se contradizer ao não conseguir ler qualquer artigo com mais de 40 linhas sem reclamar que é textão.
Só que com o tempo tudo isso se esvazia. O brasileiro médio descobre que para conseguir alcançar o que deseja, ele vai precisar, como qualquer ser humano nesse mundo, ir atrás do que quer. Se desanima. Se frustra. Novamente se sente incapaz, mas jamais admite isso diante de ninguém. Como ainda tem seus amiguinhos que falam outros idiomas, que viveram no estrangeiro, que possuem aquilo que eles ardentemente desejam, ainda passam algum tempo tentando absorver - ou melhor, SUGAR - tudo o que puderem. Mas logo percebem que desse mato não sai cachorro algum. A arrogância e a prepotência do brasileiro médio são seus piores inimigos. Nunca admitem que erram. Os errados são sempre os outros.
É aí que o caldo entorna. Percebendo-se incapazes de alcançar seus objetivos pelos atalhos, sequer cogitam tentar novamente o caminho mais certo e mais demorado. Em vez disso, vestem-se novamente de grandes patriotas que amam sua nação.
Confesso que acho patriotismo uma bobagem sem tamanho. Não importa de onde vem. Nacionalismo é coisa de gente fascista e fraca. Nenhum pedaço de terra vale a vida de ninguém ou de um povo. Porque é isso que países são: pedaços de terra, somente. O homem é quem cria as fronteiras. Nunca fui, não sou e nem pretendo ser patriota. Jamais sacrificaria minha vida por pátria alguma, fosse ela onde fosse. Minha vida vale mais do que estúpidos pedaços de terra.
Mas, voltando: o brasileiro médio, quando vestido com sua camisa de grande patriota defensor da nação, começa então a atacar aleatoriamente tudo aquilo que puder. Aqueles que antes eram seus amiguinhos úteis (por terem vivido as experiências que eles tanto desejavam) passam a ser os inimigos. "Gente que se acha, né? Só porque fulaninho viveu parte da infância em tal país e fala tal idioma ele se acha!". Parece infantil? Pois é exatamente assim que funciona o pensamento do brasileiro médio, quando colocado de frente com suas próprias frustrações. Os outros que são arrogantes. Os outros que se acham superiores! Onde já se viu um ser humano que nasceu no mesmo país que eu ter a petulância de ter vivido em outro país e falar outro idioma na mesma fluência que fala o português? Esse sujeito se acha! Esse sujeito deve se achar superior!
Mas, na verdade, não são os ex-amiguinhos do brasileiro médio que se sentem superiores. É ele que se nivela por baixo. É ele que inicialmente busca o caminho mais fácil para alcançar o que deseja, mas sempre desiste no meio do caminho e, em vez de assumir a própria responsabilidade pela própria falta de paciência e perseverança, prefere colocar a culpa nos outros, na sociedade, na lua, no sol, nos planetas do Sistema Solar ou no gato preto que cruzou seu caminho em um belo domingo ensolarado. Admitir que erra? Jamais! São sempre os outros que erram, nunca o brasileiro médio.
É aí que o brasileiro médio resolve reafirmar sua suposta autoestima, atacando de maneira sistemática tudo aquilo que na verdade, ele inveja. E ainda tem a pachorra de dizer que é humilde. E não poupa lágrimas e drama para fazer a sua ceninha de humilde colar diante das pessoas. Afinal de contas, os outros precisam estar errados. É mais fácil colocar a culpa nos outros do que se responsabilizar pelas próprias frustrações e buscar fazer alguma coisa para reverter o quadro.
Esse ciclo, por sua vez, sempre recomeça quando uma nova e mirabolante meta pinta na vida do brasileiro médio. Começo, meio e fim serão sempre iguais enquanto ele não parar de viver sempre à sombra de alguém.
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