Falta de aviso não foi — deixei o mundo consciente,
Mas os paradoxos voltam sempre, como vento reincidente.
Chegam perto, desmedidos, e não há como evitá-los,
São presenças que acompanham os passos e os intervalos.
Me perguntam se me afeta, se desvia o meu caminho;
Preocupação não muda nada — segue o curso do destino.
Então permito que existam, que habitem o que eu sou,
Pois o homem também nasce de tudo aquilo que o opôs.
E percebo, no silêncio, entre um pensamento e outro,
Que a contradição revela o que há de mais profundo no encontro.
São cupins da consciência, rodeando toda a luz,
Tateando cada sombra, cada calor que produz.
Vem sem ver o que procuram, mas persistem na missão,
E no toque incandescente deixam marcas pelo chão.
São cupins da consciência, dançando em volta do existir,
Trazem dúvidas e ecos que me fazem prosseguir.
Pois é no movimento frágil dessa busca sem fim
Que descubro que a contradição também vive em mim.
Vocês talvez se perguntem: “Que sentido há nessa ligação?”
E eu respondo: na cegueira deles vejo a minha condição.
Cupins não têm olhos, mas têm tato e seguem pelo calor,
Como ideias que se aproximam do nosso íntimo interior.
E penso no quanto somos feitos de um impulso semelhante,
Às vezes cegos, às vezes sábios, mas sempre seguindo adiante.
Se erro vem, ele ensina; se acerto vem, ele passa —
A vida é essa teia breve que a contradição abraça.
Letra: Humberto Mercado

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