Antes de começar, eu já te digo assim:
talvez seja inverdade, mas é o que vejo aqui.
Tantos anos nas costas pra tentar entender
um povo inteiro que não sabe bem o que quer ser.
É estranho ver a dança do brasileiro comum:
ora ama essa terra, ora cospe em cada um.
Entre orgulho inflado e vergonha nacional,
ele gira feito bússola moral.
E se a Europa chama, ele até perde o chão,
fala “meu sonho é Paris” com brilho de devoção.
Mas quando tropeça e não consegue ir,
vira cínico patriota pronto pra agredir.
Vira-lata de ouro, medalha no peito,
adora o estrangeiro, mas morre de despeito.
Quer o mundo inteiro, mas cansa no começo,
a culpa é sempre alheia pelo próprio tropeço.
Vira-lata de ouro, orgulho e ferida,
quer chegar ao topo, mas para na subida.
E quando o sonho cai por falta de suor,
veste verde e amarelo e grita que é melhor.
Ele rejeita o samba, a língua, o próprio chão,
mas paga pau pra camisa escrita em outra língua.
Quer falar fluentíssimo, mas logo desiste —
descobre que estudo exige ser mais do que ele persiste.
Aí cola nos amigos que tiveram outra vida,
absorve, suga, tenta, numa inveja escondida.
Diz que admira, mas lá dentro quer o trono,
quer status importado para se fazer de sonso.
Mas quando percebe que atalho não dá fruto,
que é preciso esforço pra sair do "nada mudo",
não tenta de novo, não busca razão:
atira nos outros e chama de “arrogantão”.
Vira-lata de ouro, medalha no peito,
adora o estrangeiro, mas morre de despeito.
Quer o mundo inteiro, mas cansa no começo,
a culpa é sempre alheia pelo próprio tropeço.
Vira-lata de ouro, orgulho e ferida,
quer chegar ao topo, mas para na subida.
E quando o sonho cai por falta de suor,
veste verde e amarelo e grita que é melhor.
Patriotismo pra quê? - sua outra personalidade diz
Pedaço de terra não compra ninguém - se faz o infeliz
Fronteiras são riscos que o homem faz - insiste o "bom rapaz"
pra dizer que é forte, quando não é capaz - ele mesmo sendo incapaz
Mas o brasileiro médio tem a antítese como bandeira
pra disfarçar o medo da própria carreira.
Grita que ama a pátria com o peito inflado,
e a nega depois, em seu orgulho torto, mal disfarçado.
E quando o ciclo recomeça — porque sempre vem —
ele mira outra meta que não alcança também.
Começa empolgado, morre na metade,
e posa de humilde com ar de santidade.
Os erros? Dos outros.
O fracasso? Do mundo.
A culpa? De quem viveu algo mais profundo.
E assim ele gira, sempre a lamentar,
procurando uma sombra onde possa se ancorar.
Vira-lata de ouro, rei do mimimi,
quer ser cosmopolita, mas não vai sair daqui.
Quando encosta o sonho no muro da ação,
vira hino patriota cheio de indignação.
Vira-lata de ouro, orgulho de vidro,
ataca quem venceu só pra se sentir íntegro.
E o ciclo se arrasta, eterno, sem pudor,
enquanto ele inveja o que chama de amor.
Letra: Humberto Mercado

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